Esta é uma agenda relativamente nova da educação pública no Brasil, já que o tema sobre os professores, urgente, jamais foi tratado com a importância de hoje
O Brasil vive um momento de (re)construção da carreira docente, com avanços recentes em políticas de valorização, formação inicial e continuada, e reconhecimento da importância da profissão para a qualidade da educação básica. Mas, apesar dos esforços, persistem desafios estruturais que exigem atenção urgente.
Panorama atual da docência no país
A educação básica brasileira conta com cerca de 2,3 milhões de professores registrados.
Em 2023, de acordo com dados divulgados pelo MEC (Ministério da Educação), cerca de 41,7% dos docentes participaram de alguma ação de formação continuada naquele ano.
Ainda assim, muitos profissionais seguem sem especialização adequada à área em que lecionam, uma carência histórica que corrói a qualidade do ensino. Documentações relacionadas ao cumprimento da meta 15 do Plano Nacional de Educação (PNE) apontam que a proporção de docentes com formação superior adequada segue abaixo do ideal.
Esse quadro demonstra que, embora exista um corpo docente numeroso, não basta quantidade: qualidade, formação e apoio contínuo são cruciais para transformar a educação.
As iniciativas recentes: política, incentivo e oportunidades
Nos últimos anos, o MEC lançou programas e abriu frentes para tentar reverter o histórico de desvalorização da profissão docente. Entre os destaques estão:
- Mais Professores para o Brasil: lançado em janeiro de 2025, é a aposta mais ampla para valorização e qualificação docente no país. A iniciativa prevê apoio a cerca de 2,3 milhões de professores da educação básica. Além da bolsa para ingresso na docência, o programa oferece formação continuada, pós-graduação lato sensu com foco em docência, e incentivos diversos para os profissionais.
- Por meio do programa, o professor recebe bolsa mensal (além do salário da rede de ensino), e durante esse período cursa pós-graduação, o que busca fortalecer a formação inicial e especialização.
- O MEC também expandiu a oferta de cursos de formação continuada e capacitação via plataforma digital. Desde 2023, foram ofertadas mais de 950 mil vagas presenciais e pelo menos 1,8 milhão de profissionais concluíram cursos pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem do Ministério da Educação (AVAMEC).
- Em 2023, como parte das políticas de valorização docente, houve reajuste no piso salarial nacional do magistério, refletindo o reconhecimento institucional da importância da carreira.
Na prática, essas medidas representam mais do que bônus temporários: tratam-se de um esforço institucional para estruturar a carreira docente, com ênfase em formação, estabilidade e reconhecimento.
Os gargalos da valorização docente
Apesar dos avanços, há obstáculos persistentes que ameaçam tornar essas iniciativas apenas simbólicas, como a meta do PNE de que todos os professores da educação básica tenham formação específica de nível superior em licenciatura adequada à área de atuação ainda não foi alcançada.
A taxa de participação em formação continuada, mesmo com o crescimento, continua modesta frente à necessidade. Embora 41,7% dos docentes tenham participado de formação em 2023, mais da metade segue sem esse tipo de atualização.
Também, a escassez de docentes, apontada por relatórios nacionais e internacionais, permanece um problema estrutural. O relatório global recente da UNESCO alerta: há urgência em valorizar e apoiar a profissão docente para garantir sistemas educacionais resilientes.
Além disso, a desvalorização histórica da profissão, a precarização de contratos em algumas redes e a descontinuidade de políticas em diferentes gestões dificultam a consolidação de uma carreira docente de longo prazo.
Especialistas defendem que o novo Plano Nacional de Educação 2034‑2044 (PNE) assegure perenidade de salários e de políticas de valorização, em vez de bônus pontuais, como enfatizou a vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Marlei Fernandes de Carvalho, na comissão especial, em audiência pública na Câmara dos Deputados. “Nós precisamos ter perenidade dos salários nas carreiras para, junto às condições de trabalho, realizar o nosso trabalho na escola pública de forma contundente e organizada”.
Ou seja: avanços há, mas falta a consolidação de um sistema que institucionalize a valorização docente como regra, e não exceção.
Por que a valorização e a formação de professores são fundamentais para o futuro da educação
Investir em professores é investir diretamente na qualidade do ensino. Diversos estudos, e também o próprio governo, reconhecem que o docente é o fator intraescolar que mais impacta a aprendizagem dos alunos. No Brasil, é estimado que o professor responda por 65,7% dos resultados de aprendizagem no ensino fundamental, e por cerca de 47% no ensino médio.
Formação continuada, atualização pedagógica, especialização e valorização salarial são elementos essenciais para garantir que a escola pública ofereça ensino de qualidade, equidade entre redes e que os educadores consigam atuar com dignidade, motivação e competência.
O que o país deve exigir agora
Para que as recentes iniciativas deixem de ser sinais isolados e se transformem em mudança estruturante, é imprescindível:
- Garantir que programas como o Mais Professores não sejam meras “onda do momento”, mas se consolidem como política permanente.
- Expandir e democratizar o acesso à formação continuada, especialmente em regiões remotas e redes públicas carentes de recursos.
- Assegurar carreira estruturada, planos de cargos e salários dignos e compatíveis com a complexidade da função docente.
- Acompanhar indicadores de qualidade, não apenas número de professores, mas formação, especialização, participação em cursos, permanência, resultados de aprendizagem, entre outros.
- Incluir os professores no debate educacional, com voz ativa nas políticas públicas, formação e decisões estruturais.
Por que esta pauta importa, e deve ser cobrada pela sociedade
A valorização e a formação continuada de professores não são um “detalhe” da política educacional, são o alicerce. Sem professores bem formados e motivados, sem reconhecimento social e remuneratório, não existe educação pública de qualidade.
Para um veículo como o Educação & Tendência, um site de notícias e análises dedicado a acompanhar as transformações do setor educacional no Brasil e no mundo, esse tema é urgente e convoca sociedade, estados, municípios, União, educadores e estudantes para olharem com seriedade para a docência. Porque educação de qualidade começa com quem ensina.

Com 44 anos, Rafael Gmeiner é jornalista especialista em Produção de Conteúdo, especializado em Franquias, CEO da Agência VitalCom, do site Mundo das Franquias e do site Educação & Tendências. Atua há mais de 23 anos, com Jornalismo e Comunicação, tendo passagens por jornais impressos, televisão, rádio e sites. Também, é especialista em Assessoria de Imprensa, segmento em que já atua há quase duas décadas. Além disso, é produtor de conteúdo, em especial para o ambiente online, que requer técnicas de SEO, otimização de textos para melhor posicionamento nos buscadores. Há mais de 10 anos é especializado no setor de Franquias, no qual mantém o seu site de notícias. Além disso, é sócio de uma franqueadora. Entre os seus parceiros e clientes atuais estão a reconhecida jornalista Analice Nicolau; Mônica Lobenschuss, especialista em Growth Hacking, Estratégias de Negócios e Mídias digitais; e a rede de franquia Face Doctor. Rafael também já prestou serviços para o governo da Argentina, com ações específicas no Brasil.
