Temos que voltar no tempo e desfazer um mito, o de que a educação no Brasil era excelente e degringolou depois que aderimos a teses educacionais equivocadas
Na última edição do PISA, prova internacional organizada pelo departamento de educação da OCDE e aplicada a jovens de 15 anos dos países que aderiram a ela, participaram 81 territórios e o Brasil foi um deles. Não nos saímos bem, obtendo o 65º lugar em Matemática, o foco principal daquele ano. A cada edição, sem deixar de cobrir as três áreas principais, Leitura e Interpretação de Textos, Matemática e Ciências, enfatizam uma delas.
73% dos alunos brasileiros, de escolas públicas e particulares, ficaram abaixo do básico em Matemática. Pontuamos um pouco melhor em Leitura, mas a prova de Ciências não nos favoreceu, tampouco uma adicional a que aderimos, a de Pensamento Criativo. Realmente um resultado lastimável para a 9ª economia em termos de PIB!
Tudo indicaria que a educação brasileira seria um desastre e que estaríamos fadados a nos mantermos assim, mas é importante entender o filme, não apenas a foto e, para tanto, temos que voltar no tempo e desfazer um mito, o de que a educação no Brasil era excelente e degringolou depois que aderimos a teses educacionais equivocadas.
Se olharmos para 1930, quando a Argentina e o Chile já contavam com mais da metade das crianças na escola, o Brasil contava com apenas 21,5% das crianças naquele nível de escolaridade. A Coréia estava quase empatada conosco, com 22%. Ocorre que quando chegamos ao final dos anos 1960, esses países latino-americanos e a Coréia já estavam com praticamente todos no que hoje chamamos de anos iniciais do Fundamental enquanto nós tínhamos avançado muito pouco, com meros 40% frequentando o primário.
Só conseguimos universalizar o acesso ao Ensino Fundamental na primeira década do século 21.
Ou seja, a tal escola “excelente” do passado atendia uma parcela muito pequena da população, com destaque, entre eles, para os filhos dos letrados e da classe média em ascensão. Ora, uma coisa é ensinar filhos da elite, outra membros de famílias vulneráveis. Numa pesquisa um pouco antiga, de 2002, Naércio Menezes mostrava que 68% do sucesso escolar de uma criança depende dos anos de escolaridade de sua mãe.
Mas o filme não mostra só o impacto do atraso na universalização do acesso. A atratividade da carreira diminuiu com a abertura do mercado de trabalho para a mulher. Quando, finalmente, os mais pobres entraram nas escolas por uma porta, muitos potenciais futuros mestres saíram por outra, mesmo com o aumento dos salários (que continuam, no entanto, baixos, comparados a outras profissões de mesmo nível de escolaridade).
A formação inicial de professores também passou por uma degradação, ao se desconectar da prática e permitir que soluções precarizadas fossem construídas para baratear os custos das licenciaturas, com 7 em cada 10 professores sendo formados exclusivamente à distância, por meio virtual, de forma assíncrona e até de textos enviados para celulares ou computadores.
Ainda teremos um longo caminho a percorrer para melhorar a qualidade da Educação no Brasil, mas isso será tema de futuros artigos.
Educadora e especialista em políticas públicas com uma carreira de destaque no Brasil e no exterior. Foi secretária de Educação do Rio de Janeiro, secretária de Cultura de São Paulo, ministra da administração e reforma e diretora sênior de Educação Global no Banco Mundial. Foi professora visitante nas faculdades de educação das universidades de Harvard e Stanford. Fundou o Centro de Políticas Educacionais da FGV e o Instituto Salto -pensado para dar escala às melhores práticas na Educação, Costin vem explorando há anos o impacto da tecnologia, incluindo a inteligência artificial, na educação. Seu trabalho une visões locais e globais, tornando-a uma voz essencial nos debates educacionais contemporâneos.

