Há uma crença persistente de que “mais horas de estudo” resultam automaticamente em mais aprendizado. É um raciocínio simplista que dá origem a soluções igualmente simplistas: técnicas como Pomodoro, regras de 52/17, aplicativos que cronometrariam a pausa perfeita, ou algoritmos que adaptam exercícios em plataformas digitais.
“Se quisermos um futuro educacional à altura do que nossa sociedade precisa, não basta inventar mais técnicas paliativas. É preciso reconstruir a educação em torno do aluno real, da sua potência e da sua relação íntima com o conhecimento”.
Tudo isso soa moderno, mas, no fundo, são tentativas de massa, superficiais, que ignoram o centro do problema. Se fossem de fato a solução, bastaria todo candidato ao Enem adotar uma dessas técnicas para ser aprovado. No entanto, sabemos que não é assim que acontece.
O erro está em olhar para as horas e intervalos como se fossem a essência do aprendizado, quando, na verdade, a maioria do desperdício está na própria forma como o conteúdo é exposto. Em salas de aula massificadas, o estudante se vê diante de alguém falando na frente, copia mecanicamente e conta os minutos até se livrar. Não há vínculo, não há desejo. O que se transmite é monotonia, não aprendizado.
E aqui está o ponto esquecido: a aprendizagem só floresce bem quando o aluno quer saber; de outra forma, ela se arrasta. As crianças aprendem rápido quando brincam porque se interessam pelo que fazem. Essa mesma energia poderia estar presente na escola se o conteúdo fosse oferecido de maneira a capturar a atenção de qualidade do aluno. Quando isso acontece, o estudo deixa de ser obrigação e vira desafio. E se o desafio é mais interessante do que o futebol com os amigos depois da aula ou os vídeos das redes sociais, o aluno mergulha de corpo inteiro. É nesse estado ativo de curiosidade que ocorre o grande salto de desempenho. O descanso, nesse caso, não é uma pausa vazia, mas o momento necessário para o cérebro consolidar o que foi aprendido em um processo vivo.
A natureza nos oferece um exemplo perfeito. Os filhotes de grandes felinos brincam de caçar porque é isso que farão no futuro. Não há nada mais divertido para eles do que treinar o instinto que os tornará fortes, poderosos e capazes de exercer toda sua vitalidade. Essa “brincadeira” é, na verdade, um treino essencial. Na educação humana, infelizmente, essa ponte entre interesse instintivo imediato e desenvolvimento futuro raramente é construída.
Nossos instintos ainda não se adaptaram ao fato de que a realização do potencial humano passa pela educação. Sem essa ponte, o estudo vira obrigação enfadonha. Criar esse elo é papel do professor: ser o “grande leão” a quem o aluno olha e segue, alguém que encarna o caminho para que ele também desenvolva toda sua potência.
É exatamente aqui que modelos massificados falham e que uma abordagem verdadeiramente individual mostra seu poder. No laboratório vivo que temos, cada aluno é acompanhado de forma absolutamente intimista: o professor conhece o aluno como uma mãe conhece o filho. Sabe, por experiência e por convivência, o que ele precisa experimentar, quando deve pausar, onde acelerar, e como transformar o estudo em algo que faz sentido. Esse é um dos grandes pilares da engenharia educacional. O outro é metrificar e otimizar processos para eliminar desperdícios e garantir que cada minuto de estudo seja convertido em progresso real.
As métricas e tecnologias existem, claro, mas são apenas apoios: indicadores que ajudam a checar o curso, a confirmar se a rota escolhida está de fato levando ao objetivo. Elas não substituem a relação, apenas a sustentam. O coração do processo está nessa harmonia entre intimismo humano e a racionalidade engenheirada.
O contraste com o método tradicional é brutal. Nele, os alunos desperdiçam horas: estudando o que já dominam, travados no ritmo único da turma, desmotivados por conteúdos que não dialogam com suas vidas. Nessa nova abordagem, nenhum minuto é perdido, porque o estudo é absorvente, desejado, sentido como parte de si.
Essa diferença não é apenas metodológica; é civilizatória. O que está em jogo é o tamanho do potencial humano que se perde todos os dias por insistirmos em métodos de “mais do mesmo”, que já provou ter atingido seu limite de exploração.
Mais horas de estudo, sem intimismo e sem engenharia, são apenas mais horas desperdiçadas. O verdadeiro desafio é criar experiências em que aprender seja tão irresistível quanto a brincadeira de um filhote de leão: um espaço em que o aluno veja no professor o guia para liberar toda sua força e descubra que estudar pode ser mais instigante que qualquer distração. É aí que o tempo de estudo se transforma em tempo de vida. E os resultados deixam de ser medianos para se tornarem extraordinários.
Fundador do curso pré-vestibular IntegralMind. Formado em engenharia pela Escola Politécnica da USP, atuou como docente e coordenador em diversos colégios e cursinhos de São Paulo.

