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Tarefas burocráticas desestimulam professores, afirma especialista

Tarefas burocráticas desestimulam professores, afirma especialista

William Borghetti afirma que a alta quantidade de alunos e as burocracias atrapalham os professores e impede que lecionem com mais qualidade

Conforme os Censos Escolar e o Censo da Educação Superior de 2023, a educação básica conta com 2,4 milhões de docentes e a educação superior com mais de 319 mil. Deste total, 1,9 milhão de docentes estão na rede pública e mais de 565 mil atuam nas redes privadas.

Este número representa uma alta carga de 11 educadores para cada mil habitantes, ou seja, 1 professor para cada 90 pessoas, quando o recomendado pelo MEC é um professor para cada 25 estudantes.

Isso torna a percepção do especialista em Neurociência e em Neurocomunicação, William Borghetti, ainda mais contundente. “Na minha visão, duas coisas destroem um professor em sala de aula: alta quantidade de alunos e burocracias extra-sala. Quando o professor “bate o ponto” e vai embora da escola, seu trabalho não terminou. Ele ainda vai fazer correção de provas, montar aula, pensar em atividades, etc. E, na maioria das vezes, com recursos próprios. O cérebro é uma máquina de associação: se (o educador) começa associar que dar aula significa ficar extenuado, se sente desmotivado e vai buscar cada vez mais fugir daquilo e criar argumentos para não estar lá. O lado consciente dele pode até arrumar bons motivos para validar o que o emocional está sentindo, mas um professor desmotivado, em uma sala cheia de gente que não quer estar ali, e com uma estrutura precária, é a receita da desconexão”.

Neurociência no processo ensino-aprendizagem

Willian, que também é professor e palestrante especializado em conectar pais e professores com adolescentes, enfatiza que a neurociência é muito benéfica no processo ensino-aprendizagem, oferecendo uma educação mais humanizada, inclusiva e personalizada.

“Uma coisa é fato: adolescentes respeitam quem eles admiram. Sempre é importante lembrar que por trás do professor e do aluno há um Ser Humano, que tem suas inseguranças e necessidades. Quando um professor conhece mais do cérebro e do comportamento dos seus alunos, é como se ele tivesse um “manual de instruções” onde vai poder implantar melhor o deseja ensinar”, atesta Borghetti.

Tecnologia em favor da conexão professor e aluno

O especialista afirma que é importante os professores terem maior otimização de tempo para poderem se dedicar com maior atenção aos alunos.

“A gestão do tempo, para todas as profissões do mundo, é essencial. Mas, o professor tem um elemento a mais que é o trabalho “extra-sala”. Portanto, se essa burocracia se resolve com tecnologia, o foco de atenção do professor vai para onde importa: o aluno”, declara William. 

Quando o assunto são tarefas extra-sala, a tecnologia é um braço forte de apoio ao educador. Existem diversas ferramentas, especialmente de Inteligência Artificial, que dão suporte para muitas atividades dentro e fora das salas, como o Chat GPT e o Gemini. 

Em maio de 2024, o Instituto Semesp, centro de inteligência analítica criado pelo Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior), divulgou uma pesquisa inédita, denominada “Perfil e Desafios dos Professores da Educação Básica no Brasil”, que traz um panorama da categoria sobre as condições de trabalho e a expectativa de futuro, com comentários e relatos dos docentes. 

Entre as informações divulgadas está a relação dos professores com as tecnologias e como eles enxergam o uso de ferramentas digitais no processo de ensino-aprendizagem. Segundo a pesquisa, mais de 74% dos professores são a favor do uso da Inteligência Artificial na Educação, representando três em cada quatro educadores. Porém, na contramão da predileção, apenas 39,2% dos entrevistados declaram utilizar a tecnologia para o dia a dia educacional.

Eles também avaliaram que a tecnologia impacta de forma positiva na Educação ao permitir acesso mais rápido à informação. Contudo, relataram maior dispersão dos estudantes.

Inteligência Artificial como auxiliar dos professores

Porém, não basta que exista uma ferramenta tecnológica para apoiar o professor, ela precisa ter parâmetros conceituais e legais para oferecer a melhor solução para o problema educacional. 

Pedro Siciliano, especialista em IA e fundador da Teachy, plataforma de IA que ajuda os professores a economizarem até 80% do tempo na preparação de suas aulas, ressalta que para criar um ambiente mais propício e interessante, os professores precisam usar a criatividade e desenvolver aulas e materiais consistentes, que atraiam os alunos para os estudos. 

Porém, com o alto número de estudantes, as demandas dos educadores são cada vez maiores, porque envolvem desenvolvimento do plano de aula, de materiais didáticos, correção de provas e a atuação no dia a dia escolar.

Como professor, Siciliano sentiu as dores das tarefas maçantes extra-classe, e durante o seu MBA na Universidade de Stanford, decidiu desenvolver algo que ajudasse os educadores em todos os processos dentro e fora das salas de aula. 

A Teachy foi a primeira plataforma a desenvolver e implementar soluções de inteligência artificial voltadas diretamente para o aprimoramento das práticas pedagógicas, integrando diferentes metodologias de ensino e permitindo que o professor elabore suas aulas conforme a necessidade de cada turma e/ou aluno, garantindo maior eficiência e eficácia no processo de ensino-aprendizagem. 

Hoje, com mais de meio milhão de professores cadastrados, sendo mais de 80% de escolas públicas, a IA da Teachy auxilia os professores fornecendo sugestões e ferramentas complementares que enriquecem a metodologia de ensino, sem impor mudanças e sem interferir na sua própria metodologia e autonomia, ao oferecer flexibilidade para que os professores adaptem as sugestões, por meio de recursos que consideram as necessidades específicas.

“Além disso, disponibilizamos materiais criados por outros professores e conteúdos verificados pelo nosso time de ensino, uma equipe de educadores multidisciplinar. Desta forma, são ampliadas as opções de recursos pedagógicos disponíveis, e com base na BNCC (Base Nacional Curricular Comum)”, salienta Siciliano.

Borghetti ressalta que é preciso lembrar que tempo para pensar é um fator importantíssimo para criatividade, e a criatividade é uma das melhores ferramentas do professor.

“Mas, como pensar em novas alternativas, em conexão, em ferramentas de ensino, se mal consegue cumprir as obrigações? Portanto, estabelecemos aqui que uma cabeça do professor mais arejada reflete em performance na sala de aula”.

Por fim, William elenca os pontos essenciais, pela neurociência, para que os professores possam aumentar a atenção e os resultados com seus alunos.

“Atenção e memória andam juntas. Você lembra do que prestou atenção. Para o aluno prestar atenção, é preciso motivação, ou seja, um motivo para fazer aquilo. O professor tem que dar show na fala. De novo, o aluno respeita quem ele admira. E como admirar alguém que já não tem energia para fazer o básico? Caímos em um ciclo de cansaço mental, que traz uma aula para cumprir tabela, que está desconectada do aluno e que tem impacto no comportamento, que estressa o professor, que o deixa cansado mentalmente. Um ciclo eterno”, finaliza Willian Borghetti.

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