Seis lições do Japão para transformar a educação brasileira

Seis lições do Japão para transformar a educação brasileira

O Japão tem um dos melhores desempenhos educacionais do mundo, tanto entre jovens quanto entre adultos

E isso não acontece por acaso: trata-se de um sistema onde o currículo é tratado como um pacto social, o professor é valorizado, a comunidade participa ativamente da vida escolar e o esforço é um valor cultural. 

Conhecer essas práticas pode ajudar o Brasil a construir um modelo mais justo e eficaz, sem copiar fórmulas, mas adaptando boas ideias ao nosso contexto.

O educador Paulo Rocha, vice-presidente do Biopark, um ecossistema inovador e um parque tecnológico localizado em Toledo (PR), que abrange mais de 5 milhões de m², composto por três pilares: educação, negócios e desenvolvimento territorial, esteve recentemente no Japão em missão educacional e compartilha seis lições fundamentais que podemos aprender com os japoneses:

Currículo como compromisso com o futuro

No Japão, o currículo é seguido por todas as escolas e serve como referência concreta para os professores. Ele estabelece metas altas para todos, independentemente da região ou condição social. 

Já no Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ainda encontra dificuldades de implementação, com desigualdade entre redes, baixa expectativa de aprendizagem e pouca integração com a formação docente. “O currículo precisa ser mais que um documento burocrático, deve guiar a prática pedagógica e mobilizar a sociedade”, afirma Rocha.

Educação integral e valores humanos

A escola japonesa vai além do conteúdo: desenvolve empatia, disciplina, respeito ao coletivo e senso de responsabilidade. Os próprios alunos limpam salas e banheiros, o que reforça o vínculo com o espaço escolar e reduz a indisciplina. 

Segundo Rocha, habilidades socioemocionais precisam ser cultivadas de forma prática e cotidiana, não apenas nos livros.

Valorização real do professor

No Japão, ser professor é sinal de prestígio. O salário é compatível com outras profissões de nível superior, há concursos rigorosos e formação contínua articulada ao currículo. 

Práticas como o lesson study (estudo de aula coletivo) fazem parte da rotina docente. “Investir no professor é investir em toda a educação, isso inclui salário, formação e reconhecimento social”, destaca o educador.

Comunidade que educa junto

Famílias participam ativamente da vida escolar no Japão, desde a merenda até os festivais. Há associações de pais com voz ativa e colaboração da comunidade local. 

No Brasil, a participação familiar ainda é baixa, muitas vezes burocrática ou reativa. Segundo Rocha, criar pontes de confiança entre escola e comunidade é essencial para uma educação mais consistente.

Equidade como princípio

No Japão, ser pobre não significa ter menos chance de aprender. Políticas públicas asseguram transporte, alimentação e clubes de apoio para todos. O currículo é igual para todos e a expectativa também. 

No Brasil, a desigualdade determina o quanto o aluno aprenderá. “Equidade é oferecer a todos o que precisam para chegar mais longe, não o mesmo para todos, mas o melhor para cada um”, ressalta Rocha.

Cultura do esforço e da persistência

O conceito de ganbaru, dar o seu melhor, mesmo diante de dificuldades — está presente na escola japonesa. O foco está na disciplina, na repetição e na persistência, e não em talentos “naturais”. 

A rotina escolar é intensa, mas promove autonomia e autocontrole. Segundo o educador, criar uma cultura de rotina e esforço consistente ajuda os estudantes a desenvolverem resiliência e comprometimento com o próprio aprendizado.

E o Brasil?

Segundo Paulo Rocha, não se trata de importar soluções, mas de adaptar caminhos possíveis. Currículo forte, valorização docente, equidade e envolvimento comunitário são pilares que funcionam quando bem integrados. “O exemplo japonês mostra que é possível unir excelência e justiça educacional”, finaliza.