O poder da aprendizagem com Minecraft

O poder da aprendizagem com Minecraft

O Minecraft se tornou uma poderosa ferramenta pedagógica, capaz de transformar a educação e potencializar o aprendizado 

Desde sua criação, o Minecraft ultrapassou o estigma de “apenas mais um jogo” para se tornar, segundo especialistas e educadores, uma poderosa ferramenta pedagógica, capaz de transformar a educação e potencializar o aprendizado infantil e juvenil. 

Recentemente, um artigo publicado pelo jornal mexicano citado pela mídia aponta justamente esse potencial do jogo como facilitador da aprendizagem. 

Por que o Minecraft é relevante para a educação

No universo aberto e sem roteiro fixo do Minecraft, crianças e jovens são convidados a construir, imaginar e resolver problemas, o que estimula a criatividade, o pensamento crítico e a autonomia. Essa característica é apontada por diversas pesquisas como um dos pilares para que o jogo funcione como recurso de ensino e aprendizagem.

Ao interagir com o jogo, os alunos exercitam raciocínio lógico, pensamento espacial e computacional, colaboração, comunicação e planejamento. Além disso, há o estímulo à sociabilidade, trabalho em equipe e participação coletiva, competências cada vez mais valorizadas no mundo atual.

Segundo Francisco Tupy, professor, educador, pesquisador e escritor, o Minecraft contribui para as habilidades e competências do século XXI. “É um jogo popular entre crianças, jovens e adultos, e se tornou uma referência na área de educação. E pelo fato de ser jogo, ele quebra a dificuldade de aceitação em relação a outras plataformas. Então, jogar o Minecraft é uma habilidade, mesmo que de forma inocente, pois é preciso ser analítico, prestar atenção, combinar elementos e colaborar. É um mundo virtual, um metaverso, no qual lidamos com projetos. Nele é preciso construir, destruir, criar estratégias de sobrevivência, criar estratégias de construção e, com isso, o aluno pensa e desenvolve uma linha analítica muito grande para conseguir traduzir sua ideia em realidade”.

Com vasta experiência na produção em Minecraft, Tupy, que está fazendo um doutorado sobre o Minecraft voltado para filosofia, comunicação e na educação, coordenando projetos no mundo inteiro, inclusive para a Unesco, relacionados ao uso do Minecraft em sua versão educacional, reforça que dessa maneira, há interações em 3D, museus virtuais, e um ambiente que pode ser customizado conforme as temáticas escolhidas e os alunos podem representar os temas das aulas em função dessas temáticas. 

“Mas, também, existem outras questões que estão associadas à própria modelagem 3D, à programação, colocando códigos para interagir com o mundo e terminais de texto. Assim, o Minecraft tem o lado de ser algo popular, de ser algo contextualizado, mas com a linguagem gamer, independente da idade, e, também, o lado de colocar a mão na massa”.

Com o Minecraft, é possível transpor conteúdos de disciplinas diversas, como geografia, ciências, história e até educação ambiental, para um ambiente interativo e prático. Isso favorece o aprendizado transdisciplinar, multimodal e significativo. 

Como noticiado, o jogo oferece um espaço lúdico, criativo e não-violento,  características que o tornam um “aliado inesperado” no processo educativo, afastando alguns estigmas associados a videogames.

Evidências e experiências reais

Um estudo brasileiro recente concluiu que o Minecraft, quando usado como ferramenta pedagógica, pode ampliar o engajamento dos alunos e favorecer a construção do conhecimento de forma prática e colaborativa.

Instituições de ensino têm adotado o jogo como parte de práticas pedagógicas inovadoras. O Senac São Paulo, por exemplo, integrou o Minecraft Education Edition ao currículo do Ensino Médio Técnico a partir de 2022, para propor aulas interdisciplinares, combinando tecnologia, pensamento computacional e conteúdos de história e geografia.O projeto atingiu 164 turmas em diferentes unidades, impactando mais de 6 mil alunos, além de capacitar cerca de 440 professores para utilizar o jogo de forma pedagógica.

Pesquisas em metodologias ativas mostram que o uso do Minecraft pode favorecer uma educação mais centrada no aluno, com estímulo à autonomia, criatividade e cooperação, contrabalançando o ensino tradicional baseado em memorização.

Também há relatos de escolas que usaram o Minecraft para projetos de educação ambiental e sustentabilidade. Em um dos exemplos, alunos criaram, no ambiente virtual, o planejamento de uma cisterna para captar água, aplicando conceitos de volume e geometria, e projetando uma planta da escola para verificar o impacto da proposta. 

No Ensino Fundamental, investigações acadêmicas identificaram que o Minecraft pode promover aprendizagem colaborativa e pensamento computacional. Já um estudo com alunos do 4º ano revelou avanços em atenção, cooperação e capacidade de resolver problemas por meio de desafios e construção coletiva no jogo. 

Há também aplicações fora das disciplinas tradicionais: um estudo recente relata o uso do Minecraft em aulas de Educação Física de escola de Ensino Médio, os alunos modelaram espaços esportivos e debateram regras e adaptações para diferentes práticas esportivas, promovendo reflexão e engajamento. 

Esses exemplos mostram que o Minecraft não é exclusividade de escolas privadas ou de alto padrão: há iniciativas em diferentes contextos, com propostas pedagógicas claras e resultados promissores.

Potenciais, limites e cuidados

Embora os benefícios sejam muitos, algumas ressalvas são importantes.

O uso do jogo deve ser guiado por educadores habilitados, ou seja, não basta “liberar o Minecraft” para as crianças; é necessário planejar atividades com propósito pedagógico. Referenciais de educação afirmam que o jogo funciona como recurso efetivo quando integrado a metodologias ativas e reflexão escolar.

Há desafios práticos: escolas com infraestrutura limitada (computadores, internet, formação docente) podem encontrar dificuldades para implementar o Minecraft na rotina escolar, o que exige planejamento e adaptação contextual.

Como todo recurso digital, o uso deve ser equilibrado: um estudo recente ressalta que, embora o Minecraft possa favorecer o desenvolvimento social e cognitivo, é necessário cuidado com aspectos como tempo excessivo de tela e monitoramento de interações online.

Francisco mostra que a principal questão, quando falamos em desafio, está associada ao hardware, computação, a energia elétrica e à internet, pois é necessário ter uma estrutura básica para que o jogo possa acontecer na sala de aula. Ele ainda ressalta que o outro obstáculo é a formação dos professores, mesmo que uma série de cursos online, mas que, ainda não chegaram aos educadores. “Um professor ligado à tecnologia terá uma fluência melhor, que facilita utilizar essa ferramenta. Mas, existe também uma curva de aprendizagem que precisa ser compreendida para ser usado devidamente”.

Ele ainda faz a diferenciação do Minecraft em relação a outras plataformas, mostrando que é um jogo educacional, no qual jogamos de forma livre, como se fosse um Lego virtual. Além disso, ele ensina muitas coisas e contribui para o letramento digital e midiático, bem como sobre conceitos básicos relacionados a programação e a modelagem 3D, o que obriga o usuário a pensar nas melhores estratégias.

“O Minecraft é bem diferente do Roblox, por exemplo, e está em circunstância muito oposta, já que é um jogo fechado, especialmente na versão educacional, pois o servidor só permite a entrada de 20 ou 30 alunos, sob o comando do professor. Sendo assim, os alunos não estarão com estranhos”, pondera.

Benefícios concretos para a educação brasileira

Ao adotar o Minecraft como recurso pedagógico, escolas e professores têm relatado uma série de ganhos.

A construção de cenários no jogo permite trabalhar temas como história, geografia, matemática, ciências, sustentabilidade e até esportes — tudo em um único projeto. Isso favorece metodologias ativas, conectando diferentes áreas do conhecimento. 

Por ser um ambiente familiar e lúdico, especialmente para crianças e jovens já acostumados a games, o Minecraft consegue captar o interesse dos estudantes e transformar o aprendizado em experiência interativa e prazerosa.

O jogo favorece o pensamento computacional, raciocínio lógico, noção espacial e medidas, habilidades sociais (coletividade, colaboração, comunicação), e competências socioemocionais como autonomia e cooperação.

Desde escolas técnicas até instituições de ensino fundamental, passando por disciplinas como Química, Matemática, Educação Física ou projetos de sustentabilidade, o Minecraft se adapta a diversos níveis e contextos. 

Minecraft como “ponte” para o futuro da educação

O Minecraft representa hoje mais do que entretenimento, é uma ponte que conecta infância, tecnologia e aprendizagem significativa. Quando bem utilizado, o jogo oferece um ambiente rico para o desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e emocionais, incentivando a criatividade, a colaboração e a autonomia dos alunos.

Para redes escolares, educadores e famílias, a mensagem é clara: videogames como o Minecraft podem (e devem) fazer parte do repertório educativo contemporâneo, desde que usados com propósito, planejamento e responsabilidade.

Sugestões práticas de uso em sala de aula, para escolas e professores brasileiros

Para quem deseja experimentar o Minecraft na escola com propósito pedagógico, algumas ideias e recomendações:

  • Projetos interdisciplinares: usar o Minecraft para construir maquetes de cidades sustentáveis, reconstruções históricas, ecossistemas, ou mapas geográficos, integrando disciplinas como Geografia, História, Ciências, Matemática, Artes e até Educação Física.
  • Gamificação de conteúdos tradicionais: aplicar o jogo para ensinar conceitos abstratos de Química, Física, Matemática ou Biologia de forma visual e interativa, por exemplo, modelando moléculas, ecossistemas, volume e forma, práticas esportivas, etc.
  • Estimular trabalho em equipe e colaboração: dividir os alunos em grupos com tarefas complementares (construir, planejar, pesquisar, documentar) para promover comunicação, cooperação, divisão de papéis e tomada de decisão coletiva.
  • Uso em projetos de cidadania e sustentabilidade: propor desafios relacionados a cidades, infraestrutura, meio ambiente, planejamento urbano, consumo consciente ou soluções sociais, estimulando consciência social, pensamento crítico e inovação.
  • Capacitação docente antes da implementação: oferecer formação para professores — idealmente por meio de oficinas ou cursos, para que compreendam as potencialidades e os desafios do uso do jogo, planejem atividades coerentes e monitorem o processo de aprendizagem.