Educação midiática em sala de aula: uma tendência e uma necessidade

Educação midiática em sala de aula: uma tendência e uma necessidade

Com impacto atual do ciberespaço, a educação midiática e o letramento digital são indispensáveis para usuários de internet de todas as idades

De acordo com uma pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto Reuters, da Inglaterra, 58% dos entrevistados demonstraram preocupação com as suas próprias capacidades de discernir, no noticiário digital, o que é real e o que é falso. Os respondentes foram pessoas de 48 países e o resultado, publicado no relatório Digital News Report 2025, reforça uma questão que se coloca de maneira urgente no debate público em todo o mundo: como compreender uma realidade que é cada vez mais mediada pelas plataformas digitais?

Um dos conceitos que vêm ganhando força e relevância nesse sentido é o de letramento digital, que, conforme a definição mais corrente, diz respeito à habilidade de utilizar as tecnologias de forma eficaz para encontrar, avaliar, criar e comunicar informações, incluindo a capacidade de entender e usar as linguagens verbais, visuais e multimídia presentes no ambiente digital.

Nessa mesma linha, e somado a esse conceito, entende-se por educação midiática a habilidade para navegar nesse meio digital de maneira crítica, com consciência para diferenciar aquilo que pode ser tido como verdadeiro e legítimo daquilo que mostra indícios de fraude, por exemplo.

Conscientização desde cedo

Muito embora todos os usuários de plataformas e aplicações digitais devam estar preparados para navegar com segurança por esse universo, especialistas no tema concordam que crianças e adolescentes devem receber atenção especial e ser orientados sobre o uso responsável da internet o mais cedo possível.

No Colégio Agostiniano Mendel, localizado na zona leste de São Paulo, alunos até o 5º ano do Ensino Fundamental têm aulas quinzenais de Educação Midiática. De acordo com a responsável pelas aulas, a professora Márcia Fidele, o curso foi concebido para preparar os alunos para um uso mais consciente, crítico e responsável das novas tecnologias.

“A recepção dos alunos às nossas aulas de Educação Midiática tem sido muito positiva. Eles demonstram interesse, curiosidade e entusiasmo ao participar das atividades, especialmente quando envolvem jogos, vídeos e situações práticas do dia a dia digital”, diz.

Um dos temas trabalhados dentro dessas aulas foi “Uma aventura no mundo das fake news”, para o qual a sala de Tecnologia Educacional do colégio foi transformada em uma Escape Room em que os alunos precisavam resolver desafios envolvendo notícias verdadeiras e falsas, sempre em atividades criadas com esse propósito e gamificadas.

Fidele afirma que o desempenho dos estudantes nas atividades tem surpreendido, como nas ocasiões em que os jovens começam a identificar notícias falsas e refletir sobre o que compartilham. “Um exemplo marcante é quando eles começam a relacionar, de forma espontânea, conteúdos vistos na internet com os temas trabalhados em sala. Essas conexões demonstram que estão desenvolvendo um olhar mais crítico e consciente sobre o mundo digital, compreendendo melhor o que consomem e refletindo sobre o impacto dessas informações”, comenta.

Todos os resultados dessas atividades, assim como os desempenhos dos alunos, são registrados e também disponibilizados para os pais através de uma plataforma do colégio, com o objetivo de aproximá-los do tema e fortalecer o diálogo sobre esse tema tão importante.

“As atividades não são avaliadas com nota e não envolvem reprovação, pois o principal objetivo é estimular habilidades como o pensamento crítico, o uso ético da tecnologia e a leitura consciente das mídias. Contamos com a colaboração – fundamental – de toda a comunidade do Agostiniano Mendel nesse intuito”, conclui Fidele.

Alfabetização midiática: um agrupamento de competências

Os especialistas espanhóis Carmen Marta Lazo, vice-reitora de Comunicação e Identidade institucional e catedrática na Universidad de Zaragoza, na Espanha; e investigadora principal no Grupo GICID (Grupo de Investigación en Comunicación e Información Digital), da Universidad de Zaragoza, e  Jose Antonio Gabelas Barroso, professor titular de Comunicação Audiovisual e Publicidade, investigador, também, da Universidad de Zaragoza; e cofundador do Grupo GICID, também mostram a importância de ensinar crianças e jovens a identificar desinformação e usar a mídia com responsabilidade.

“Crianças e adolescentes devem desenvolver o pensamento crítico, que permitam a eles questionarem a veracidade dos conteúdos que consomem. Isso inclui habilidades como verificação de fontes, compreensão do contexto, diferenciação entre fatos e opiniões, e a capacidade de identificar preconceitos ou intenções por trás de uma informação. Além disso, devem aprender a gerir suas emoções diante de conteúdos manipuladores, bem como refletir sobre o impacto que tem compartilhar informações falsas ou sensacionalistas”, ressalta Carmen.

Por outro lado, Jose reforça que primeiro é preciso distinguir entre crianças e adolescentes, e orienta para um trabalho efetivo.

“Com crianças, pode-se trabalhar de uma forma mais planejada e eficaz o campo da prevenção frente ao uso abusivo ou mau uso da tecnologia. Com os adolescentes já nos deparamos com certos maus hábitos que são necessários enfrentar. Quando falo de prevenção, não me refiro apenas ao que significa prevenir comportamentos de risco (bulliyng, dependências, transtornos de atenção, possíveis alienações,  consumo acrítico), mas, também, à promoção da saúde. Ou seja, um plano de alfabetização midiática deve compreender o bem-estar integral do menor e do usuário”.