Ensinar respeito, limites e empatia no digital é tão importante quanto ensinar no mundo offline. E os números mostram essa urgência
Em um mundo cada vez mais conectado, em que o ambiente online convive de modo híbrido com a vida escolar e social, a educação digital precisa abarcar mais do que apenas o domínio de ferramentas tecnológicas.
Tornam-se essenciais o ensino de valores como respeito, limites e empatia, para que crianças e adolescentes aprendam a conviver de forma saudável também no universo virtual. Os dados mais recentes oferecem um retrato alarmante dessa urgência.
O crescimento do cyberbullying
Uma pesquisa realizada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) em parceria com o IBGE revelou que, entre estudantes de 13 a 17 anos de escolas públicas e privadas no Brasil, 13,2% já declararam ter sofrido cyberbullying. A amostra envolveu 159.245 jovens.
O estudo identificou que a prevalência é maior entre adolescentes de 13 a 15 anos, meninas, estudantes da rede pública e filhos de mães com menor escolaridade.
Segundo o mais recente boletim do programa Escola que Protege, ligado ao MEC, o ambiente escolar já reconhece o ciberespaço como nova fronteira da violência — e o documento destaca a urgência de políticas e práticas pedagógicas voltadas à prevenção e ao acolhimento.
Em 2024, foram registradas 2.346 denúncias de bullying e cyberbullying no Brasil, contra 1.399 em 2023 — um aumento de cerca de 67% em um ano.
Esses números mostram que o digital não é apenas um espaço de diversão e aprendizado, pode também reproduzir violência, íntima ou estruturada, afetando diretamente a saúde mental, o rendimento escolar e o bem-estar dos jovens.
Por que respeito, empatia e limites precisam entrar no currículo digital
O fenômeno do cyberbullying e da agressão online não é apenas um incidente pontual. A natureza da internet, com anonimato, instantaneidade e alcance, amplifica o impacto do que muitas vezes começa como “brincadeira” ou “zoação”, pode haver humilhação, exclusão, difamação, ameaças, disseminação de conteúdo vexatório, assédio moral e até violência psicológica repetida.
Sem o desenvolvimento de empatia digital, isto é, a capacidade de se colocar no lugar do outro mesmo atrás de uma tela, é fácil que o convívio virtual se torne terreno fértil para ofensas, preconceitos e agressões. A educação, portanto, não deve se limitar ao ensinar a usar plataformas, mas também a conviver com responsabilidade, exercer autocontrole nas interações online, e respeitar a dignidade alheia.
Além disso, a imposição de limites e supervisão familiar/escolar é parte fundamental da proteção, especialmente para crianças e adolescentes. O uso intenso de redes sociais, jogos e aplicativos expõe jovens a riscos não apenas de bullying, mas de assédio, desinformação, manipulação de dados e vieses de vulnerabilidade. Por isso, cabe às escolas e famílias orientar o uso consciente e seguro da tecnologia.
O papel das escolas, dos educadores e da comunidade
A aprovação da Lei 14.811/2024, que estabelece protocolos de proteção e prevenção à violência, inclusive a virtual, nas escolas brasileiras, representa um passo importante na responsabilização institucional pelo problema.
Mas, leis e normas não bastam se não forem acompanhadas de:
- Programas de educação digital e cidadania, integrados ao currículo, que abordem respeito à diversidade, empatia, convivência democrática, ética no uso das redes e consciência sobre impacto das palavras e ações online.
- Formação de professores e gestores escolares para identificar sinais de cyberbullying, acolher vítimas e promover mediação de conflitos, inclusive em ambiente virtual. O boletim Escola que Protege recomenda capacitação dos profissionais da educação para lidar com essas novas formas de violência.
- Ambientes de diálogo e apoio psicológico, para que vítimas e testemunhas possam denunciar, buscar ajuda e reconstruir vínculos, sem medo de retaliação.
- Participação da família: pais e responsáveis precisam estar atentos ao tempo de uso da internet, às plataformas acessadas e ao tipo de interação dos filhos; conversar sobre limites, respeito e segurança; e acompanhar, quando necessário.
Educação digital como processo de formação ética
Educação digital não é, e não deve ser, apenas uma preparação técnica ou instrumental. Ela representa uma oportunidade histórica para reconstruir a noção de convivência, respeito e empatia tendo a tecnologia como mediadora.
Formar cidadãos capazes de interagir com responsabilidade e humanidade online é tão urgente quanto ensinar Ciências, Matemática ou Língua Portuguesa. Afinal, o mundo digital é também, e cada vez mais, um espaço de convivência, convivência essa que requer humanidade, sensibilidade e ética.
Para que escolas, famílias e comunidade caminhem juntas nesse desafio, é necessário reconhecer que o “ensinar sobre o digital” envolve não só habilidades, mas valores. Só assim estaremos formando, além de usuários competentes, cidadãos conscientes, empáticos e responsáveis.

Com 44 anos, Rafael Gmeiner é jornalista especialista em Produção de Conteúdo, especializado em Franquias, CEO da Agência VitalCom, do site Mundo das Franquias e do site Educação & Tendências. Atua há mais de 23 anos, com Jornalismo e Comunicação, tendo passagens por jornais impressos, televisão, rádio e sites. Também, é especialista em Assessoria de Imprensa, segmento em que já atua há quase duas décadas. Além disso, é produtor de conteúdo, em especial para o ambiente online, que requer técnicas de SEO, otimização de textos para melhor posicionamento nos buscadores. Há mais de 10 anos é especializado no setor de Franquias, no qual mantém o seu site de notícias. Além disso, é sócio de uma franqueadora. Entre os seus parceiros e clientes atuais estão a reconhecida jornalista Analice Nicolau; Mônica Lobenschuss, especialista em Growth Hacking, Estratégias de Negócios e Mídias digitais; e a rede de franquia Face Doctor. Rafael também já prestou serviços para o governo da Argentina, com ações específicas no Brasil.
