2025 deixou claro que a alfabetização midiática não pode mais se limitar à leitura de mensagens isoladas, exige análise mais aprofundada
Enfim, 2025 terminou. Ao entrar em 2026, vale menos celebrar respostas e mais organizar a leitura do que ficou como sinal. O último ano foi marcado por aceleração informacional, hiperviralização, fragmentação da atenção e deslocamento dos processos tradicionais de mediação. Para a educação, para a comunicação e para a media literacy, 2025 não foi um ano de consolidação, mas de exposição de limites — dos modelos de comunicação, das plataformas e das nossas formas de interpretação.
Nesse contexto, alguns fenômenos culturais funcionaram como indicadores de circulação simbólica. Labubu, Morango do Amor, Bebê Reborn e Bob Goodies não importam pelo que “representam” em sentido clássico, mas pelo modo como operaram dentro do ecossistema midiático: velocidade de propagação, reaproveitamento memético, apropriação comercial, ruído algorítmico e engajamento reativo. Eles ajudam a entender como a cultura contemporânea se organiza mais por dinâmicas de circulação do que por narrativas estáveis.
O Morango do Amor evidenciou a força de símbolos de baixa complexidade semântica e alta replicabilidade. Sua explosão não dependeu de contexto, explicação ou profundidade, mas de transmissibilidade. Do ponto de vista da media literacy, ele explicita um princípio central da cultura de plataformas: o que circula melhor não é o mais elaborado, é o mais facilmente reproduzível.
O Bebê Reborn operou pela lógica do estranhamento e da hiper-realidade. Sua circulação foi impulsionada menos por identificação e mais por reação: curiosidade, desconforto, debate e polarização. Ele evidencia como os sistemas algorítmicos favorecem conteúdos que geram resposta emocional imediata, independentemente de compreensão crítica.
O Bob Goodies sinalizou a consolidação da estetização da comunicação. Em um ambiente dominado por interfaces, colecionáveis, visualidade e design de produto, a forma passou a funcionar como linguagem primária. Trata-se de um contexto em que a aparência antecede o sentido, e onde o consumo cultural frequentemente acontece antes da análise.
Já o Labubu funcionou como o sinal mais instável — e talvez mais importante — de 2025. Um fenômeno sem fechamento semântico, sem narrativa única, sem estabilização. Labubu circula como ruído, quebra de expectativa e indício de transição. Para a media literacy, ele aponta para um desafio central: nem tudo que emerge é imediatamente legível, e ainda assim precisa ser analisado.
O que 2025 deixou claro é que a alfabetização midiática não pode mais se limitar à leitura de mensagens isoladas. Ela exige análise de ecossistemas, compreensão de lógica algorítmica, leitura de circulação, identificação de interesses e capacidade de lidar com ambiguidade e incompletude. O caos informacional não é apenas desordem; é um sintoma de mudança estrutural.
Ao começar 2026, o desafio não é buscar estabilidade onde ela não existe, mas desenvolver ferramentas críticas para operar em contextos instáveis. Novos fenômenos virão, novos ruídos surgirão, novas formas de viralização e apropriação aparecerão. Que o próximo ano seja menos sobre tentar controlar a comunicação e mais sobre aprender a lê-la em movimento.
Feliz 2026!
Que venha com mais repertório, mais leitura crítica e melhores perguntas para lidar com os próximos sinais do tempo.
Professor, autor indicado ao Prêmio Jabuti. Nomeado ao Prêmio Darcy Ribeiro. Educador e Game Designer com impacto global, palestrante internacional e orientador de Feiras de Ciências. Doutor pela USP em videogames e linguagem audiovisual. Foi o 1º Microsoft Innovative Educator Fellow da América Latina. Diversas vezes premiado nas maiores feiras científicas do Brasil e do mundo, como FEBRACE, MOSTRATEC, FBJC, MOCICA, ISEF e Genius Olympiad.
